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Pressionado, Bolsonaro abandona o confronto. E faz guinada para o centro

Discurso golpista foi trocado, nesta quinta-feira (25), por acenos de paz aos outros poderes e indicação técnica para o Ministério da Educação

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Há exatos oito dias, na quarta-feira, dia 17, o presidente Jair Bolsonaro fez três declarações em menos de 12 horas, todas elas contendo ameaças golpistas. “Está chegando a hora de tudo ser colocado no seu devido lugar”, disse, pela manhã, referindo-se à ação do STF contra deputados bolsonaristas. “Povo é quem diz o que as instituições devem fazer”, afirmou, diante do presidente do STF, no início da tarde. “É igual a uma emboscada. Tem que esperar o cara se aproximar, vem mais.  Não quero medir forças com ninguém, (mas) continua vindo”, disse, fazendo menção de estar atraindo o Supremo e seus adversários para uma emboscada.

A quinta-feira, dia 18, amanheceu com a prisão de Fabrício Queiroz. E tudo mudou. Bolsonaro fez uma defesa débil do ex-assessor de seu filho durante a live daquele dia. E… só. Não parou mais diante do cercadinho no Alvorada (alguém ainda vai lá?), não deu mais nenhuma declaração polêmica, abandonou o confronto. E as ameaças sumiram, porque, se já era difícil imaginar militares entrando numa aventura golpista, vê-los envolvidos com rachadinhas, depósitos estranhos e milícias é impensável.

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O abatimento de Bolsonaro na semana ada era visível. O sinal mais claro foi dado na despedida de Weintraub da Educação. O presidente “não estava ali”. Motivações para esse abatimento não faltam. Além da desconfiança dos militares, Bolsonaro está cercado de pressões. Tem o inquérito das fake news, com a possibilidade de ele ter de dar depoimento presencial para a Polícia Federal. Tem o golpe sofrido por seus aliados no Congresso e nas redes sociais. Tem Queiroz preso e a bomba-relógio embutida nessa prisão para seu filho, Flávio, e para o presidente. A lista é longa…

E diante dela, Bolsonaro parece (parece…) ter mudado de posição. Há quem veja nessa mudança a influência do recém-chegado Fabio Farias, novo ministro das Comunicações e pessoa de bom trânsito no Congresso. Há quem aponte vozes mais experientes do Centrão. De qualquer forma, a semana marcou a presença de um novo Bolsonaro em cena. Ou alguém imaginaria, há 10 dias, a possibilidade de o presidente aguentar calado a possibilidade de ter de dar depoimento presencial para agentes da Polícia Federal?

Os sinais mais claros dessa possível guinada ao centro do presidente de extrema-direita foi dado ao longo desta quinta-feira, dia 25. Em um discurso na presença do presidente do Supremo, Bolsonaro falou em “paz” e em “entendimento entre os poderes”. Poucas horas mais tarde, anunciou para o Ministério da Educação o ex-presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Carlos Alberto Decottelli. “Não tenho nem preparação para fazer discussão ideológica. Minha função é técnica”, já disse o novo ministro em sua primeira entrevista. Decotelli é o primeiro negro a ocupar a função de ministro no governo Bolsonaro.

Claro, estamos falando do presidente mais imprevisível da história do país. Bolsonaro pode amanhecer na sexta-feira diante do seu cercadinho e soltar seus xingamentos contra o Supremo, o Congresso, a OMS, a imprensa, os índios, e o mundo. Mas nesse momento, no final da tarde dessa quinta-feira, dia 25 de junho de 2020, temos no Planalto uma figura com tendência à moderação e com sinais claros de guinada para o centro no seu governo. Foi levado a isso por uma série de pressões, é certo. De qualquer forma, a política é resultado de contingências. E as atuais podem ter levado Bolsonaro a mudar, ao menos momentaneamente, seu modo de governar. Temos de ver como será a reação das redes bolsonaristas, dos radicais da direita, dos olavistas e etc. Mas essa é uma outra história, para um outro dia.

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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