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Os números do coronavírus e o país do Tostines

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Ainda é cedo, muito cedo, para termos uma definição sobre qual será o comportamento da curva de casos e de mortos pela covid-19 no país. Mas a observação do gráfico abaixo, do Ministério da Saúde, mostra um descolamento entre a curva do número de casos e a de óbitos.

Casos acumulados de coronavírus no Brasil. Foto: Ministério da Saúde

Casos acumulados de coronavírus no Brasil. Foto: Ministério da Saúde

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(Antes de prosseguir, um alerta: cada uma das mortes ocorridas é lamentável. E continua sendo assustador o número diário divulgado pelas autoridades sanitárias. A abordagem será apenas em relação ao comportamento social resultante de uma situação delineada nos últimos dias.)

Nessa segunda-feira, dia 20, o Ministério da Saúde deu um susto no país, ao divulgar a ocorrência de 383 mortes em 24 horas. Um recorde. Depois, no final da tarde, corrigiu o número para 113. O dado do domingo, dia 19, foi de 115 óbitos. O de sábado, dia 18, foi 206. Ou seja, estamos gravitando em torno de 110 a 210 mortos por dia. É muito, sem dúvida, mas nos últimos dias essa curva parece controlada.

Lógico, temos de levar em consideração as subnotificações ocorrida no caso das mortes. Além disso, o crescimento consolidado no número de casos está estrangulando o sistema de saúde em várias capitais. E o pico da pandemia no país é esperado para as próximas quatro semanas.

Mas…

O primeiro caso do Brasil ocorreu no mesmo dia da Itália (25 de fevereiro). E até aqui, a evolução da doença no Brasil tem sido diferente de lá.

Definido esse cenário, é de se perguntar: e se o comportamento da curva de óbitos ficar bem abaixo do esperado e anunciado por estudiosos e autoridades de Saúde? No caso do Espírito Santo, aliás, isso é bem possível, porque o estado tem, até o momento, uma das mais baixas taxas de letalidade da doença no país, ficando atrás apenas de Roraima e Amapá. Ela é de 2,7% (numa conta arredondada, a cada 200 casos, morrem cinco pessoas) ficando dentro da faixa registrada na Alemanha (3,1%) e Coreia do Sul (2,2%).

Esse quadro pode se manter, ou, pior, não se confirmar, com uma eventual explosão dos casos. De qualquer forma, teremos  uma nova polarização em torno da pandemia: a contenção da curva foi resultado do isolamento e da adesão da população ou houve exagero nas previsões e o isolamento foi exagerado? O isolamento conseguiu reduzir o impacto da pandemia ou a explosão dos casos mostra como isso era inevitável e as regras de restrição eram inúteis?

A questão certamente vai dominar as redes sociais, será usada politicamente, vai virar argumento nas eleições tanto municipais quanto presidenciais. Como toda polarização ocorrida neste país desde os governos petistas, a discussão vai gerar muito calor e pouca luz. Cada um escolherá sua posição e dela não arredará pé. O Brasil vira, nesses momentos, o país do Tostines (“é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho?).

O lamentável nessa história é o provável desprezo por uma eventual vitória. Caso o cenário atual se mantenha e, após o pico da doença, tenhamos um registro de óbitos inferior ao previsto, a discussão sobre esse resultado irá apagar o fato de termos ado pela pandemia com um índice menor de tristeza. Pobre país, onde questões políticas e econômicas ficam, muitas vezes, acima de nosso bem mais valioso: a vida.

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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