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Os governantes desistiram de brigar contra a pandemia?
Era uma vez, um técnico de futebol do interior de São Paulo. Seu nome era Vado. Era o dono do time. Vários palpiteiros vinham dar pitaco na escalação da equipe. E também na formação tática. Vado queria melhorar o time, mas não sabia como. Aceitava uma sugestão aqui, adotava uma taticazinha ali. Mas as coisas não iam para frente. Alguns jogadores não obedeciam ao técnico, outros eram ruins mesmo. Num dia, Vado entrou no vestiário. Escalou o time para a partida. Distribuiu as camisas e disse, solene: “Agora é com vocês… Vocês vão entrar no gramado. E a partir do momento que o juiz apitar o início do jogo, vocês que se danem!”
Pois nossas autoridades estão indo pelo mesmo caminho, quando se trata da pandemia.
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Explico melhor…
Veja a tabela abaixo. Ela retrata a evolução da covid-19 no Espírito Santo há seis dias, quando tínhamos 1.507 mortos. Observe a linha azul. É ela quem aponta a curva da casos no estado.
Agora veja essa outra tabela. Ela é bem mais recente, mostra a evolução dos casos até essa sexta-feira, dia 2. Note a diferença no formato da curva. A linha azul é, agora, totalmente ascendente.
Notou? Bem, sabe por que há diferença entre as duas curvas? Não? Eu também não faço a mínima ideia…
Podia até ser engraçado, mas a falta de explicação sobre a evolução da covid-19 no estado e no país virou um padrão. Até duas, três semanas atrás, tínhamos por parte do governo do estado manifestações diárias do governador ou do secretário de Saúde, com orientações para a população, leituras sobre o cenário da pandemia, onde nós estávamos e ao menos uma perspectiva sobre para onde estávamos indo. Nesta semana, até a manhã desta sexta-feira, dia 3, não tivemos uma mísera manifestação do governo. Nada. Não temos noção de onde estamos e nem para onde estamos indo.
Do governo federal talvez seja repetitivo falar. Se alguém tem notícia de um só ato de Eduardo Pazuello após ter assinado o protocolo para uso da cloroquina desejado por Jair Bolsonaro, por favor, se manifeste. Aliás, se alguém sabe do paradeiro de Pazuello, por favor, erga a mão. O governo Bolsonaro conseguiu uma proeza: ninguém pensaria em disputar uma Copa do Mundo com um técnico interino, mas o Brasil encara uma pandemia com um ministro tampão.
Nesta semana, um auxiliar técnico de Pazuello veio a público anunciar o platô dos casos no Brasil. Fez isso no momento de explosão da doença em Minas e no Centro-Oeste. Se ele está certo ou não, o tempo vai dizer.
De qualquer forma, a situação se repete: não há, por parte do governo federal, nenhuma nova orientação, nenhuma recomendação, nenhum trabalho para tentar conter o avanço da doença. As autoridades sanitárias e governamentais parecem simplesmente ter se cansado ou desistido. O governador já não insiste mais no isolamento. E nem mesmo a cantilena sobre o uso da cloroquina é repetida pelo presidente ou seu ministro.
É como se eles já tivessem feito tudo, e como se nada mais houvesse a fazer. Mesmo porque, assim como os jogadores teimosos do time do interior de São Paulo, boa parte das pessoas simplesmente não obedece aos pedidos e desconfia das orientações dos técnicos. E saem para a rua como se não houvesse vírus e nem precisasse haver amanhã…
Seja pelo cansaço de tentar encontrar um rumo, seja pelo desprezo em relação à doença, as autoridades parecem repetir a ordem dada por Vado pouco antes da partida: “Agora é com vocês. Vão para as ruas e…”
Se as coisas não mudarem, será cada um por si, e todos largados à própria sorte.
P.s.: Não se tem certeza, mas o time de Vado parece ter sido goleado. Há quem até diga o placar: 7 a 1…
P.s.: Vado não usou exatamente “se danem”, mas deu para entender…
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