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Os dados da covid-19 no Brasil estão ‘menos piores’ que em outros países
Os dados do Ministério da Saúde apontam para 7.321 mortos no país pela covid-19 até essa segunda-feira, dia 4. Cada vida perdida é lamentável. Mas o movimento da pandemia nos leva a tratar dos dados estatísticos com uma certa frieza. Ela não é desejável, mas é necessária. E uma análise dos números de mortes ocorridas no Brasil aponta para um quadro “menos pior” quando comparado a outros países. Vamos a eles.
Trabalho desenvolvido por Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, e citado recentemente pelo jornalista Vinícius Torres Freire, dá uma medida da mortalidade do vírus em vários países. Quarenta dias depois da décima vítima da Covid-19, o Brasil contava 23,6 mortes por milhão de habitantes. Estados Unidos, 66,8. Alemanha: 63,5. Itália: 254. Reino Unido: 298. Espanha: 363. A Europa inteira: 62,4. Mesmo levando em consideração a provável subnotificação dos casos, teríamos, ainda assim, um quadro “menos desfavorável” no país. Se dobrássemos o número de mortes, por exemplo, a relação entre óbitos e população ainda nos deixaria num patamar inferior a esses países citados acima.
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Lógico, nunca atingiremos os patamares da Coreia do Sul (3,6), só para ficar num exemplo. Mas os dados permitem contestar estudos exageradamente pessimistas, como o apresentado na semana ada pelo Imperial College de Londres. Ele previa a elevação de 6.500 para 10 mil mortes no país entre a quinta-feira, dia 30, e o domingo, dia 3. Isso não ocorreu, como se sabe.
Diante dos números dos últimos três dias, todos eles bem abaixo da média diária de 400 mortes alcançada na semana ada, autoridades da Saúde alertaram para a queda de registros de mortes nos finais de semana. Não explicaram o motivo dessa queda, mas essa é outra história.
De qualquer forma, a mortalidade da pandemia no Brasil é inferior a de outros países, como demonstra o gráfico abaixo, da Universidade Johns Hopkins. Nele, o Brasil aparece bem abaixo de Espanha, Itália e Reino Unido.

Índice de mortalidade por 100 mil pessoas (Universidade Johns Hopkins)
Voltando a Pedro Hallal: o epidemiologista prefere analisar os dados a partir das mortes porque existem menos divergências em relação a elas. No caso do registro de casos, há várias disparidades entre os países, segundo ele. Mas uma “desobediência” aos limites impostos por ele nos permite verificar como o Brasil se situa num quadro de similaridade com outros países da Europa, mesmo tendo uma população bem maior. Novamente, quem fornece os dados é a Universidade Johns Hopkins.

Evolução de casos de covid-19 nos países (Universidade Johns Hopkins)
Há algumas conclusões a serem tiradas disso. Estamos indo bem? Esse quadro antecede um pico incontrolável? O isolamento, mesmo não tendo sido completo, apresentou resultados? As respostas a essas questões deveriam ser trazidas a público pelas autoridades de Saúde, assim como dados mais claros sobre a evolução da doença no estado, no país. E aí está um ponto ainda nebuloso: não se sabe o motivo de essas autoridades, em todos os níveis, não apresentarem dados mais concretos, mais palpáveis, sobre essa evolução. Eles poderiam ajudar, inclusive, essas autoridades a convencer a população sobre suas decisões, tanto pelo endurecimento do isolamento quanto pela seu relaxamento. Mas isso não ocorre, e a crítica vale tanto para governos “oposicionistas”, nos estados, quando para o governo federal. Além da pandemia da covid-19, sofremos com a epidemia de falta de informação oficial. E embora essa epidemia não seja letal, ela também causa alguns estragos na sociedade.
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