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O tratamento desejado pelo novo ministro para conter a pandemia
Não é cloroquina, não é azitromicina, não é vacina. O principal recurso desejado pelo novo ministro da Saúde para combater a pandemia é tempo.
É natural o nervosismo de Nelson Teich em seu primeiro pronunciamento como responsável pela saúde da nação. Aliás, ao seu lado estava um presidente Jair Bolsonaro quase irreconhecível em sua expressão facial letárgica e dando intervalos enormes entre cada frase (bem diferente, aliás, do Bolsonaro agitado e extremamente agressivo da entrevista ao vivo para a CNN duas horas depois. Mas essa é uma outra história…). Voltando ao médico estreante em pronunciamentos nacionais, quem ou por momentos parecidos, de exposição pública, sabe: faltam algumas palavras, o pensamento fica errático, pontos importantes são deixados de lado.
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Deixando o nervosismo de lado, Teich pontuou, do início ao fim, a necessidade de buscar informação, levantar dados, “entender a doença”, como definiu já quase ao final de seu pronunciamento. ”Como a gente tem pouca informação, está tudo muito confuso, a gente começa a tratar cada ideia como se fosse fato, e começa a trabalhar cada decisão como se fosse um tudo ou nada. E não é nada disso”, disse ele, logo no início. “O que é fundamental é que a gente consiga enxergar aquela informação que a gente tem até ontem, decidir qual é a melhor ação, entender o momento e seguir nesse caminho de definir qual a melhor forma de isolamento”, prosseguiu, sem deixar muito claro o significado da expressão “informação que a gente tem até ontem”.
Mais para frente, ele escancarou a necessidade de contar com tempo para planejar suas ações. “Cada vez mais as decisões têm de ser baseadas em informação sólida. Vamos trabalhar (saúde e emprego) com um detalhamento fundamental para que a gente entenda o que está acontecendo e tome as ações e as políticas necessárias. É fundamental a gente trabalhar uma área de dados e inteligência. Colher dados ao longo do tempo. A gente tem de entender mais da doença. Quanto mais a gente entender da doença, maior será nossa capacidade de entender o momento e planejar o futuro. E sair dessa política do isolamento. A gente vai estar aprendendo, ao longo do tempo, como é que isso se comporta.”
É impossível discordar do ministro em relação à necessidade de termos maior conhecimento sobre a covid-19. Informações, dados, estratégia, tudo isso é realmente fundamental para combater a pandemia. A questão é se haverá prazo para isso. Porque essas etapas deveriam ter sido estabelecidas quando o país ou a entender como inevitável a chegada da pandemia por aqui. De certa forma foram, pela equipe de Luiz Henrique Mandetta, mas Teich parece discordar do que foi feito, ou achar insuficiente. O novo ministro precisa de tempo para estabelecer suas ações. Mas ele não o terá. Porque o esgotamento do sistema de saúde já é realidade no Ceará, no Amazonas e chegará aos hospitais de São Paulo e Rio de Janeiro em poucos dias. As ações a serem tomadas são urgentíssimas e não poderão ficar à espera de estudos, levantamento de dados, planejamento.
A visão do novo ministro é certeira, o momento é errado. Alguém já comparou a troca na Saúde com uma mudança de técnico da Seleção Brasileira no meio da Copa do Mundo. Exemplo perfeito. Isso não deveria ter sido feito. Mas foi. Agora, o novo técnico da Saúde assumiu o time e tem de enfrentar a Alemanha amanhã. Ele gostaria muito de fazer uma pré-temporada com a equipe, conhecer os jogadores, entender o adversário. Mas terá no máximo uma tarde para fazer um treino coletivo e ir para o jogo. Se vai vencê-lo ou não, o tempo, justamente o tempo, é quem dirá…
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