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Coluna Vitor Vogas

Marina pede votos para Casagrande e dá “anistia” para Audifax

Deputada eleita por São Paulo veio a Vitória em campanha por Lula e, como evangélica, repudiou as “mentiras e calúnias” de que ele “fechará igrejas” caso volte ao Planalto

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Em breve agem por Vitória nesta quinta-feira (27), a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) pediu votos para Renato Casagrande (PSB) na eleição ao governo estadual e, principalmente, para Lula (PT) na disputa pela Presidência. Eleita deputada federal por São Paulo, ela também deu uma espécie de “anistia” para Audifax Barcelos, ou seja, evitou condenar a mudança de lado radical protagonizada pelo ex-prefeito da Serra nesta eleição estadual.

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“Vim pedir votos para os candidatos do campo democrático. O Casagrande é um excelente candidato. Fui colega do Casagrande como senadora [de 2007 a 2010]. Estou aqui para pedir votos para o Lula e para ele”, disse Marina sobre o atual governador, que disputa a reeleição contra Manato (PL).

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Sobre Audifax, Marina foi magnânima. Nos últimos anos, a principal líder da Rede no Brasil dedicou muitos elogios a ele, considerado por ela um ótimo prefeito. No entanto, durante a campanha a governador do Estado, pela federação Rede/Psol, Audifax praticamente renegou seu partido, que integra oficialmente a coligação de Lula à Presidência.

Contrariando os fatos, Audifax insistia em dizer que a Rede não apoiava Lula e não tomou partido na eleição para presidente. Derrotado no 1º turno com 6,5% dos votos válidos, deu uma guinada na primeira semana do 2º turno: anunciou sua desfiliação da Rede e sua adesão à campanha de Manato, candidato bolsonarista que defende “a derrota da esquerda”. A Rede agora apoia Casagrande.

Marina negou (obviamente) a insistente afirmação de Audifax de que a Rede não apoiava Lula. Mas, em vez de condenar Audifax, preferiu reconhecer-lhe os méritos como prefeito: “Costumo dizer que a gente não deve reescrever a história das pessoas”.

Evangélica desde 1997, Marina abominou as “mentiras e calúnias” de que Lula “fechará igrejas” caso volte ao Planalto. Também repudiou a manipulação da fé que ganhou protagonismo neste pleito.

Ela ainda destacou que o Brasil, na saúde e em muitas outras áreas, precisará de um governo de “recuperação pós-guerra” a partir de 2023 e classificou como “desespero” a narrativa do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre possíveis fraudes eleitorais relativas à não veiculação de inserções de sua propaganda em emissoras de rádio.

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Vestindo uma camiseta com a mensagem “Em estado permanente de campanha”, Marina concedeu uma entrevista coletiva por volta das 17h30 em um hotel de frente para a praia de Camburi. Depois, participou de um culto ecumênico seguido de comício eleitoral na Praça dos Desejos, acompanhada por líderes estaduais do PT e da Federação Rede/Psol.

Confira as principais declarações da ex-ministra em Vitória, por tópicos:

Audifax Barcelos

“O Audifax foi um excelente prefeito de Serra. E eu costumo dizer que a gente não deve reescrever a história das pessoas. Uma coisa não deixa de ser bonita porque foi feita por alguém de quem eu discorde. Uma coisa não deixa de ser justa porque foi feita por alguém de quem eu discorde. Eu não costumo reescrever a história. Ele foi um excelente prefeito de Serra. Tivemos divergência em relação a essa questão. E, em função dessa divergência, ele entendeu se desfiliar da Rede. E, para nós, isso, claro, tem um custo. Mas é o custo de preservar a coerência.”

Rede não apoiava Lula?!?

“Posso falar pela Rede Sustentabilidade, que mantém a sua coerência política e programática, no campo da defesa do desenvolvimento sustentável, da defesa da democracia. Em nenhum momento tergiversamos em relação a este momento dramático da história do nosso país que nós estamos vivendo, com 33 milhões de pessoas ando fome, vivendo com R$ 1,30 por dia, de violência contra o povo preto, de destruição do meio ambiente. Temos uma grave crise econômica, social, política e de valores, uma situação difícil com esse orçamento secreto que alicia parlamentares e que usa dinheiro público para poder ter maioria no Congresso. Historicamente, nós sempre nos postamos do lado da defesa da democracia, do combate às desigualdades e da sustentabilidade.”

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Carta de Lula aos evangélicos

“O presidente Lula assinou uma carta de compromisso com o povo evangélico: o respeito à fé e a algo que sei que é doloroso para ele. Por que é doloroso o que vem acontecendo? É porque ele vem sendo caluniado de que irá fechar igrejas. E ele teve que um compromisso de não fazer aquilo que ele nunca fez e que nunca pretenderia fazer. E ele assinou esse compromisso, porque ele é um cristão católico e, com esse princípio de respeito ao povo evangélico, ele assina uma carta, que está desmistificando todas essas mentiras e calúnias. Agora, o que mais desmistifica essas mentiras e calúnias é a quantidade de vezes em que os mesmos que estão dizendo agora que o presidente Lula vai fechar igrejas são aqueles que iam no Palácio orar com o presidente, se encontrar com o presidente, sancionar o Dia do Evangélico, a Lei de Liberdade Religiosa. E, obviamente, o que mais defende a nossa liberdade religiosa, a de todas as pessoas, é a nossa Constituição.”

“Manipulação da fé”

“Temos de ter muito cuidado, em primeiro lugar, para não tratar todos os evangélicos como se fossem homogêneos. Não são. Há uma diversidade mesmo no mundo evangélico. Em segundo lugar, de não tratar todas as pessoas como se fossem fundamentalistas. Também não são. Mas não podemos deixar de dizer que há uma forte manipulação que está aí sendo feita da política pela fé e da fé pela política, o que não é bom nem para a fé nem para a política. Eu me converti à fé cristã evangélica em 1997 e nunca fiz do púlpito um palanque nem do palanque um púlpito.”

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“Jesus se agrada…”

“A gente conhece a árvore pelo fruto que ela dá. Pode ter certeza: Jesus se agrada do fruto do respeito ao próximo, de dar comida a quem tem fome, de dar água a quem tem sede, de não tratar ninguém de forma violenta. E obviamente que os frutos contrários não são algo que eu possa considerar que seja bom.”

Marina Silva discursa durante comício em Vitória. Foto: assessoria do PT-ES

Bolsonaro e as inserções de rádio

“A atitude do ex-presidente é o tempo todo a de deslegitimar a vontade soberana do povo brasileiro. Primeiro ele tentou com as urnas eletrônicas. Ele tenta um factoide o tempo todo. Agora, ele tentou criar um fato. E aquela entrevista que ele deu, mais do que qualquer coisa, aquilo parecia um discurso antecipado de derrota. Se ele achou que aquilo ia virar um fato e que as Forças Armadas iam se perfilar para tentar impedir as eleições de 2º turno, as instituições democráticas mostraram que estão controlando. E eu espero que o alto oficialato brasileiro, que tem visão estratégica e pensamento de elite, jamais entre numa aventura como essa. Não há lugar para uma aventura autoritária. Essa é uma atitude de alguém desesperado que tenta a toda hora criar um factoide. O episódio deplorável do Roberto Jefferson foi a mesma coisa. Temos que manter a nossa dignidade democrática e republicana, fazendo uma campanha para ar o Brasil a limpo e não aceitar em hipótese alguma qualquer tipo de armação.”

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“Governo pós-guerra”

“Vamos ter que fazer um esforço de recuperação pós-guerra. Um país que perdeu 700 mil vidas por negligência, a saúde é um esforço de recuperação pós-guerra. Um país que é responsável por 40% das florestas destruídas no mundo. Isso é um esforço de recuperação pós-guerra. Um país que tem 33 milhões de pessoas ando fome é um esforço de recuperação pós-guerra. Um país que vê as instituições sendo atacadas como nós estamos vendo, isso é algo que vai dar muito trabalho, por isso vamos precisar de todo mundo.”

Defesa da democracia

“É um movimento muito bonito que está acontecendo. Neste momento, as lideranças históricas do PSDB estão todas com a campanha de Lula: o Serra, o José Aníbal, o Tasso Jereissati… Hoje eu fiquei emocionado vendo Fernando Henrique gravando um vídeo para dizer ‘Lula 13’. Isso é muito bonito e não pode se perder. Quando terminar a eleição, nós temos que continuar conversando, porque nós aprendemos a lição: quando a democracia está ameaçada, nós precisamos de todo mundo para a gente fazer essa travessia. Quando ela estiver preservada, nós vamos continuar conversando.”

Superação do ódio

“Nós estamos precisando de todo mundo. Queremos um movimento de reconciliação do Brasil consigo mesmo. Quando terminar esta campanha, eu espero em Deus que a gente junte os cacos dessa violência que foi impingida à sociedade brasileira, porque vamos continuar sendo primos, cunhados, vizinhos, irmãos… E essa violência, esse ódio não pode prevalecer. Vamos ter diferenças? Vamos. Vamos continuar disputando? Vamos. Mas, se Deus quiser, em novas bases. Nas bases em que a crítica seja livre e construtiva e em que a autocrítica seja sincera e reparadora.”

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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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