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Ministro da Saúde vira alvo de ataques nas redes sociais

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Foi constrangedor. No cargo há três semanas, o ministro Nelson Teich se viu numa situação inusitada: não sabia como responder sobre as novas medidas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro para a sua área, a Saúde. Em mais um impulso contrário ao isolamento social, Bolsonaro anunciou a inclusão de setores como academias e salões de beleza entre as atividades essenciais, ou seja, com autorização para funcionar mesmo na pandemia. Titubeante, sem saber exatamente como responder, Teich balbuciou algo como: “Isso não é atribuição nossa…” É. E ele sabe disso. Mas deu uma resposta cabível naquele momento.

Foi revelador. Na mesma entrevista, Teich foi questionado sobre eventuais medicamentos contra a covid-19. Fez uma defesa técnica sobre o uso de remédios. “Vamos recomendar um remédio quando a evidência científica for forte para isso”. Pouco antes, quanto citou qual droga “é mais promissora” citou a remdesivir. E esqueceu a cloroquina. Bastou: em pouquíssimo tempo, a hashtag #ForaTeich já estava entre as trend topics nacionais do Twitter. Os bolsonaristas e, já se diz, Bolsonaro, querem a cabeça do ministro. Seus pecados são a defesa da ciência como base para as decisões e o esquecimento da cloroquina como “o remédio” contra a doença, embora estudos recentes não confirmem isso.

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É definitivo. O bolsonarismo, como se sabe, se alimenta de confrontos e de teorias da conspiração. Mas, convenhamos, mesmo para os padrões bolsonaristas, as últimas semanas são de exagero absoluto em suas idas e vindas. Há menos de uma semana, o alvo da vez era Regina Duarte, considerada tolerante demais com “a esquerda infiltrada em sua área”. Curiosamente, bastou uma entrevista amalucada para a CNN para voltar a ganhar apoio. Por quê? Porque, a seu modo, defendeu a tortura, minimizou a ditadura, relativizou a pandemia. Foi ungida pelo guri Olavo de Carvalho e ganhou sobreviva no cargo. Teich não tem perfil de defesa dessas posições. Aliás, Teich tem poucas posições claras. Ainda estuda as estatísticas e nada de efetivo apresentou até o momento. Mas tem suas convicções. E até agora tem se desviado dos confrontos com os arroubos negacionistas do presidente.

É pouco. Porque as hostes bolsonaristas não querem no governo alguém com perfil técnico, embora alardeiem isso aos quatros cantos. Querem defensores de suas posições radicais. Querem cloroquina. Querem senso comum. Querem desafios à lógica. Querem defesa da tortura. Querem elogios à ditadura. Querem o desrespeito às normas do estado e a sobreposição das posições do governo.

É isso. Ou os ministros seguem essa cartilha ou ele a a ser tratado com desconfiança, descrédito, humilhação e ataques diretos, nessa escala. Três semanas após chegar ao cargo, Teich balança. Pode continuar ministro, mas o episódio o deixou menor politicamente e istrativamente. E ter um ministro menor diante do gigantismo da pandemia é perigoso, é desnecessário, é triste.

E é assustador.

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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