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Coluna Vitor Vogas

Casagrande diz que fará campanha para Lula e mais ninguém

“Minha presença em atos de campanha, só com Lula”, afirma governador. Ciro e Simone serão recebidos só de forma institucional, explica ele. Nesta terça, ele, Contarato e outros petistas se reúnem para possivelmente fecharem a aliança estadual

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Renato Casagrande ao lado de Lula na mesa do XV Congresso Nacional do PSB, em Brasília (28/04/2022). Foto: Assessoria de Comunicação do PSB

O governador Renato Casagrande (PSB) foi assertivo: na eleição presidencial, pedirá votos e fará campanha para Lula (PT). Para Lula e mais ninguém. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) podem vir ao Espírito Santo em campanha. Serão recebidos institucionalmente por ele, no Palácio Anchieta ou na Residência Oficial. Mas ato de campanha mesmo, ele só fará ao lado de Lula, quando (e se) o petista vier ao Estado.

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Outros candidatos, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), não terão esse benefício, mesmo que seus partidos também estejam na coligação de Casagrande. “Lula é o meu candidato. […] A minha presença em atos de campanha, só com o presidente Lula”, disse o governador, desenvolvendo a explicação:

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“O Ciro não é o meu candidato. O Ciro é uma pessoa que eu vou receber, vou acolher, vou fazer uma conversa com ele. Mas o candidato que o PSB apoia é o Lula. A hora em que o Ciro vier, o Vidigal [Sergio Vidigal, líder estadual do PDT] vai pegar a mão do Ciro e fazer um ato com ele. Eu não poderia estar ao mesmo tempo, com a mesma empolgação, com todas as candidaturas. O candidato que o meu partido apoia é o Lula, então é ele que eu recebo aqui, num ato. O Ciro eu posso recebê-lo no Palácio, na Residência Oficial, tomar um café com ele. Ele não é meu inimigo nem meu adversário, assim como a Simone, que vai ter o MDB e o PSDB. O meu partido e eu vamos fazer campanha para o Lula. Quando o presidente Lula estiver aqui, é lógico que eu, naturalmente, vou estar com ele. Campanha, para o Lula. Lula é o candidato.”

A declaração de Casagrande foi dada no final da entrevista coletiva concedida por ele na tarde desta segunda-feira (11), para anunciar oficialmente a sua pré-candidatura ao governo estadual. É só ligar os pontos para captar a conexão dessa fala com um fato iminente: na manhã desta segunda-feira, a partir das 8 horas, o governador receberá, na Residência Oficial da Praia da Costa, uma comitiva de dirigentes do PT, para a quarta e talvez definitiva rodada de negociações entre PT e PSB no Espírito Santo.

A reunião pode sacramentar a reprodução, em âmbito estadual, da aliança que já une os dois partidos na chapa Lula-Alckmin e em muitos outros estados – incluindo, agora, São Paulo, onde o ex-governador Márcio França (PSB) decidiu desistir de se lançar novamente ao governo para apoiar Fernando Haddad (PT) e dessa vez concorrer ao Senado.

De modo virtual, o senador Fabiano Contarato (PT) vai participar da reunião com Casagrande nesta terça. Presencialmente, a comitiva petista será formada pela presidente estadual da sigla, Jackeline Rocha, o ex-prefeito de Vitória João Coser, a deputada estadual Iriny Lopes, entre outros dirigentes.

Como temos sustentado aqui desde meados de junho, a pré-candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta, na prática, já virou fumaça: PT e PSB estarão juntos também no Espírito Santo. O excelente desfecho da “Operação França” para o PT em São Paulo, suprindo completamente os anseios do partido de Lula, só reforça essa tendência de apoio do PT a Casagrande no Espírito Santo, tratada pelas cúpulas nacionais das duas siglas como uma das contrapartidas do acordo no maior estado brasileiro.

Além disso, na última terça-feira (5), em reunião virtual, com a presença de Casagrande e Contarato, os presidentes nacionais do PT e do PSB, respectivamente Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, pediram aos dirigentes capixabas empenho na replicação da aliança em solo capixaba.

Espaço para o PT na chapa: “Pedido, sim; condição, não”

Para terminar de selar o acordo local, o PT do Espírito Santo apresentou a Casagrande uma pauta de reivindicações. Entre elas, espaço na chapa majoritária a ser encabeçada pelo governador, com o candidato a vice-governador ou a senador. Na coletiva de imprensa desta segunda (11), Casagrande confirmou que os petistas lhe fizeram mesmo esse pedido, mas esclareceu: pedido, sim; condição, não.

“Com relação ao PT, tem um pleito, sim. O PT fez o pleito de participação na chapa majoritária. Mas não colocou uma condição. Tem o pleito, mas não tem ‘Ah, se não tiver isso…’. O PT está maduro nesse debate. Acho que as coisas estão bem encaminhadas. Tem o pleito colocado, e agora acho que a gente consegue dar um desfecho nesses próximos dias, de um jeito ou de outro. Mas a nossa expectativa é que dê um desfecho positivamente, até pela condução que a gente tem das duas direções nacionais, pelo desejo expresso das duas direções nacionais e pela boa relação que nós temos aqui também.”

Uma fonte do PT confirma que a presença do partido na chapa de Casagrande é um pleito, mas não chega a ser uma condição para o embarque do PT na coligação do atual governador.

O o a o de Casagrande em direção a Lula

Ao longo de todo esse novelístico namoro com o PT, cheio de idas e vindas, Casagrande foi se aproximando gradualmente do “palanque” de Lula. A cada declaração, um o a mais na direção do ex-presidente da República e um abraço um pouco mais estreito nele. Nesta segunda, Casagrande parece enfim tê-lo abraçado por inteiro.

Mas o detalhe mais interessante a se notar nessa sequência de declarações do governador é o padrão seguido por ele: sempre foram feitas, em entrevistas à imprensa, em momentos nos quais sua relação com o PT capixaba estava muito estremecida ou nos quais os dois partidos estavam prestes a tomar uma decisão relacionada a essa união de forças no Espírito Santo. Ou seja, assim como agora, tratou-se sempre de acenos públicos ao PT.

No dia 14 de março, em entrevista exclusiva a esta coluna, Casagrande itiu pela primeira vez: “Não tenho problema nenhum em votar novamente no presidente Lula”. Àquela altura, a relação do governador com o PT estadual estava muito ruim: cerca de um mês antes, Casagrande provocara a ira dos petistas capixabas ao receber institucionalmente na Residência Oficial o ex-juiz Sergio Moro, então pré-candidato à Presidência e filiado ao Podemos. Logo em seguida, o PT-ES lançou a pré-candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta.

No dia 6 de junho, em sua segunda rodada de negociações com os petistas capixabas, Casagrande comprometeu-se a fazer campanha para Lula, mas “do seu jeito”. E, segundo relatos de participantes, ressaltou que esse apoio não poderia ser exclusivo, mas extensivo a outros pré-candidatos à Presidência por partidos que também fazem parte da sua base, como o PDT (Ciro Gomes), ou que ele pretende incorporar à sua coligação, como o MDB (Simone Tebet).

Já no dia 13 de junho, em entrevista a este espaço e à reportagem do jornal A Gazeta, Casagrande anunciou pela primeira vez: “Vou votar em Lula. Vou digitar o 13”. Para dali a dois dias, em 15 de junho, estava prevista uma reunião crucial entre as direções nacionais de PT e PSB para tomarem decisões sobre imes eleitorais em vários estados, inclusive no Espírito Santo. Essa reunião acabou adiada. Mas a declaração de Casagrande ficou.

Restou aquele resquício de dúvida: tá, mas ele “somente” anunciará e dará seu voto em Lula no dia 2 de outubro, na intimidade solitária da cabine de votação, ou realmente pedirá votos para o ex-presidente, participará de atos de campanha etc.?

Agora, no derradeiro e mais eloquente aceno, o governador responde a essa pergunta e afirma para meia imprensa capixaba que fará campanha exclusivamente para Lula…

Isso 16 horas antes da reunião em que ele espera bater o martelo com o PT.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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