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Coluna Vitor Vogas

Ala do Republicanos flerta com Arnaldinho e quer filiá-lo ao partido

Entenda por que a ideia de filiar o prefeito (e o presidente da CMVV) agrada tanto a um segmento do Republicanos e por que isso pode interessar ao próprio Arnaldinho

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Arnaldinho Borgo anuncia cinco novos nomes para a gestão de Vila Velha. Foto: Divulgação

Arnaldinho Borgo é prefeito de Vila Velha. Foto: Divulgação

O Republicanos está em ebulição no Espírito Santo. Tem uma ala do partido querendo filiar Arnaldinho Borgo (Podemos). Outra ala não quer nem ouvir falar dessa ideia. Tem deputado do partido que prefere incorporar Euclério Sampaio (União Brasil). O único aparente consenso é o descontentamento, em grau variado, de importantes figuras do partido com Lorenzo Pazolini.

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Os prefeitos de Cariacica e Vitória serão temas de outras colunas. Nesta análise, nosso foco é o prefeito de Vila Velha, sonho de consumo de um segmento importante do Republicanos no Espírito Santo: aquele mais ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, capitaneado pelo vereador de Vila Velha Devanir Ferreira, pastor licenciado e aliado de Arnaldinho.

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No fim do ano ado, apoiado pelo deputado estadual Hudson Leal, Devanir chegou a convidar o prefeito para trocar o Podemos pelo Republicanos. O vereador não controla nem tem poder de decisão no partido, presidido no Espírito Santo pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa Erick Musso (que não deu retorno à coluna), mas está longe de ser um líder partidário sem importância. Além de secretário-geral do Republicanos no Estado (o segundo na hierarquia interna), Devanir é o mais antigo e orgânico dirigente estadual da legenda, originária justamente dos templos de Edir Macedo.

O flerte velado dessa ala do Republicanos com Arnaldinho começou a ganhar ares públicos, de aproximação aberta, por um fato que despertou a atenção do meio político capixaba: a convite da Fundação Republicana Brasileira (FRB), do Republicanos, Arnaldinho participou como ilustre palestrante do “Simpósio FRB: Governo Digital e a Municipalidade”, evento promovido em Brasília no último dia 27 pela referida fundação, da qual Devanir faz parte.

Segundo a assessoria do prefeito, ele foi convidado “por Vila Velha ser uma das primeiras cidades a utilizar o Sistema Integrado de Gestão e Gerenciamento do Governo”.

Sem prejuízo da justificativa e do reconhecimento do mérito, o que mais chamou a atenção no evento foi a “linha partidária cruzada”: não é nem um pouco comum um prefeito filiado a um partido despencar para a Capital Federal para participar do evento da fundação de formação política de outra agremiação. O fato pode ser lido (e foi) como mais um indício do interesse de parte do Republicanos em atrair Arnaldinho para seus quadros.

No entanto, as articulações conduzidas por Devanir esbarram em dois problemas.

O primeiro é que a direção nacional do Podemos, sigla de centro-direita presidida pela deputada federal Renata Abreu (SP), faz questão de manter Arnaldinho em suas fileiras e lançá-lo à reeleição em 2024. Consultada pela coluna, a assessoria do Podemos nacional enviou a seguinte nota:

“O prefeito Arnaldinho Borgo é um grande quadro do partido, irado e visto como exemplo de gestor público dinâmico e eficiente, que representa muito bem o modo Podemos de governar. Sua importância se reforça inclusive com a indicação de seu braço direito e ex-vice-prefeito, o deputado federal Dr. Victor Linhalis, para a vice-liderança do novo bloco na Câmara, compondo a bancada do Podemos em Brasília.”

O segundo fator são os movimentos partidários – ou, neste caso, “falta de movimentos” – de Lorenzo Pazolini. O prefeito de Vitória ainda não tomou nem anunciou, nem para dentro nem para fora do partido, duas decisões fundamentais de que dependem os próximos os de vários agentes políticos situados ao redor dele, inclusive no Republicanos: se permanecerá na sigla e se será candidato à reeleição.

Pazolini, convenhamos, não tem por que precipitar essas definições, pois neste caso o tempo joga a seu favor: pode fazê-lo até abril do ano que vem. Mas, para seus (ainda) correligionários, o tempo das definições é outro, muito mais acelerado, pois precisam se preparar e construir desde já alternativas. Para muitos republicanos, essa “indefinição” ou “postergação” de Pazolini está travando as decisões dos demais e impedindo que as articulações deslanchem.

O que isso tem a ver com Arnaldinho e o interesse de parte do Republicanos em filiar o prefeito?

Troca de estrelas

Em primeiro lugar, para os defensores da filiação de Arnaldinho, essa possibilidade pressupõe a saída de Pazolini do partido. Só pode se concretizar se o prefeito de Vitória não disputar a reeleição pelo Republicanos, abrindo espaço para que os dirigentes estaduais apostem em outros candidatos competitivos na Grande Vitória. Nessa conjectura, Arnaldinho assumiria esse lugar de Pazolini como maior estrela eleitoral da companhia em 2024, candidatando-se a prefeito de Vila Velha pelo Republicanos.

Com Pazolini ficando no Republicanos e disputando a reeleição, já não haverá espaço para isso.

O Republicanos já pode ter candidato próprio a prefeito da Serra (Amaro Neto ou Pablo Muribeca). Lançar duas candidaturas próprias na Região Metropolitana já é um negócio complicado, mas três é impossível, por uma série de fatores práticos: isso forçará uma divisão de foco, de pessoal, de energia política e, acima de tudo, de recursos de campanha entre as candidaturas majoritárias (enfraquecendo todas). É melhor apostar tudo em um cavalo só, no máximo dois, mas para ganhar.

Por isso – ou também por isso –, a intenção da ala de Devanir em filiar Arnaldinho está emperrada, pelo menos até este momento, pela indefinição de Pazolini.

Presidente da Câmara é alternativa

Diante desse ime, Devanir e seu grupo em Vila Velha conceberam e começaram a pôr em prática um plano B. A ideia é filiar ao Republicanos não necessariamente Arnaldinho, mas o presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti, hoje também filiado ao Podemos. O convite já foi feito a ele por Devanir.

Homem de confiança e da cozinha política de Arnaldinho, além de atual sucessor imediato do prefeito (devido à vacância do cargo de vice-prefeito), Lorenzutti é considerado um nome muito provável para ser candidato a vice-prefeito na chapa de Arnaldinho em Vila Velha, na próxima eleição municipal.

O acordo do grupo de Devanir com ele aria exatamente por isso, isto é, estaria condicionado a essa dobradinha de Arnaldinho com Lorenzutti na chapa majoritária. Se os dois puderem entrar no Republicanos, tanto melhor para esse grupo. Mas, com a filiação de Lorenzutti pelo menos e a presença dele na chapa, o Republicanos garante participação direta e coprotagonismo na disputa majoritária em Vila Velha.

Para o Republicanos, ao menos para essa ala do Republicanos, isso é importante por algumas razões.

Ocupação de cargos

Seguindo a lógica da ocupação de cargos, o partido acabou de perder um espaço muito importante, com o fim do mandato de Erick Musso e de sua era na presidência da Assembleia. Quanto à Prefeitura de Vitória, vários líderes estaduais do Republicanos se ressentem com Pazolini pelo fato de o prefeito, eleito pelo Republicanos, simplesmente se negar, segundo eles, a acomodar na máquina da prefeitura os quadros indicados pelo partido.

Se considerarmos que no fundo estamos tratando aqui de fisiologismo, errado Pazolini não está… mas esse é um dos principais motivos da bronca de líderes do Republicanos com o prefeito de Vitória.

Por esse ângulo, chegar à vice-prefeitura de Vila Velha, com Lorenzutti, poderia resolver em boa medida essa questão. Chegar à prefeitura canela-verde com Arnaldinho, então, ô, nem se fala…

A sucessão de Casagrande em 2026

Outra razão fundamental é que, como sabe até o asfalto de algumas ruas por onde catadores de lixo não podem mais circular em Vila Velha, no horizonte de Arnaldinho está a disputa pelo governo do Estado, na sucessão de Casagrande (PSB) em 2026. Para isso, reeleger-se prefeito em 2024 é só uma escala, importante e necessária, mas que não é um fim em si mesma.

No ritmo em que vai, se não fizer nenhuma grande besteira, ou uma sucessão de pequenas bobagens, o prefeito está muito no jogo. O comentário geral na cidade é que ele está bem avaliado e chegará muito forte para a reeleição no ano que vem.

Se realmente cumprir o atual favoritismo e renovar o mandato de prefeito, é possível mesmo que Arnaldinho se lance ao Palácio Anchieta em 2026. Para tanto, em abril daquele ano, precisará renunciar ao mandato na prefeitura. Assim, o cargo de prefeito será assumido pelo então vice-prefeito, cuja escolha agora, assim, adquire imensa importância.

Se o Republicanos filiar Bruno Lorenzutti e este se eleger vice-prefeito de Arnaldinho em 2024, o partido pode emplacar o sucessor do prefeito em 2026. Já se o Republicanos filiar os dois, pode eleger o prefeito de Vila Velha em 2024 (Arnaldinho), seu sucessor em abril de 2026 (Lorenzutti) e quem sabe até o próximo governador do Espírito Santo em outubro de 2026 (Arnaldinho). Barba, cabelo e bigode.

Por que esse movimento pode ser interessante também para Arnaldinho?

A coluna tentou sem sucesso falar ontem com Arnaldinho Borgo e não obteve de sua assessoria um posicionamento oficial sobre sua permanência ou não no Podemos. Mas colaboradores do prefeito afirmam que, hoje, ele sente-se muito confortável no Podemos, está muito prestigiado pela direção nacional da sigla (como de fato se verifica na nota acima) e só sairia do partido para assumir um lugar de destaque ainda maior em outra sigla. Do contrário, não faria sentido.

Mas, do ponto de vista de Arnaldinho – e não estou dizendo que isso vá ocorrer, apenas me colocando no lugar dele –, eventual mudança do Podemos para o Republicanos não é nenhuma ideia absurda, não… Na verdade, faz até bastante sentido. Talvez não tanto agora, mas após ele renovar o mandato, caso seja mesmo reeleito.

Como referido acima, a meta maior de Arnaldinho, presumida por todos, é disputar em 2026 a sucessão de Casagrande, de quem é grande aliado e de quem foi importante apoiador na eleição estadual de 2022.

Ora, se migrar para o Republicanos, o prefeito de Vila Velha por certo terá concorrentes internos, outros políticos de renome aspirando à mesma vaga e à legenda do partido para se candidatar ao governo. Ficando onde está, porém, essa “concorrência interna” é ainda mais certa, ou melhor, tende a ser ainda maior.

Só no próprio Podemos, existe um rival interno duríssimo: o deputado federal Gilson Daniel, a quem se atribui interesse na mesma disputa e que por acaso vem a ser o presidente estadual do Podemos, controlando o partido no Espírito Santo. Nada mau… para ele mesmo.

Há ainda um agravante: a possibilidade de formação de uma federação do Podemos com os já federados PSDB e Cidadania.

Dentro do grupo de aliados de Casagrande importantes em sua reeleição e aspirantes a seu posto em 2026, a fila dobra o quarteirão. Mas todos sabem que é puxada pelo vice-governador Ricardo Ferraço, por acaso filiado ao PSDB.

“Política tem fila”, Ricardo está esperando de pé sua vez desde 2010 (quando a fila foi “furada” exatamente por Casagrande), o acordo entre ele e o socialista no ano ado teria ado por isso…

Se confirmada a federação entre o PSDB/Cidadania e o Podemos, essas três siglas arão a existir na prática como um só partido, inclusive nas eleições de 2026. Arnaldinho estará amarrado ao PSDB.

Em um primeiríssimo momento, isso gera um problema (ou mal-estar) local, já que o ex-prefeito Max Filho, inimigo de Arnaldinho, é filiado ao PSDB. Nesse caso, porém, é bem mais provável que o próprio Max receba isso como o empurrão final para fora e decida sair de uma sigla na qual, de resto, já está sem espaço.

Para Arnaldinho, o problema maior o aguardaria em 2026, com Ricardo Ferraço bem estabelecido como primeirão da fila e cotado desde já para ser o candidato ao governo por essa federação com o Podemos.

A oposição interna ao plano

Tudo faz sentido, tudo se encaixa, não fosse por um “detalhe”: esse plano da ala do Republicanos liderada por Devanir Ferreira enfrenta fortíssima resistência entre outras figuras proeminentes do partido. E o motivo maior é precisamente a fila pela sucessão de Casagrande em 2026. É assunto para uma próxima análise aqui.

Bruno pode migrar quando?

Como é vereador, Bruno Lorenzutti pode sair do Podemos (para o Republicanos ou qualquer outra sigla) em duas circunstâncias relativamente próximas. Uma delas é a janela para migração autorizada de vereadores, a ser aberta em março do ano que vem. A outra, ainda mais próxima, é após o TSE homologar a fusão do Podemos com o Partido Social Cristão (PSC).

Devanir: adversário de Pazolini

Dentro do Republicanos, Devanir Ferreira é um dos maiores opositores de Pazolini. No fim do ano ado, chegou a homenagear na Câmara de Vila Velha a vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Patriota), desafeto de Pazolini, e fez críticas públicas ao prefeito.

Marcos Pereira: “Sei de nada”

Na tarde dessa terça-feira (4), perguntei ao deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente nacional do Republicanos, se Arnaldinho foi convidado oficialmente pelo Republicanos. “Não estou sabendo de nada. Sou presidente nacional e não estadual”, respondeu ele.

Anotado.